Junto com farinha, fruta e verdura, os paranaenses põem no prato, todo dia, uma pitada de veneno. É o que revela o último relatório do Programa Estadual de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, elaborado pela secretaria de Saúde do Paraná e obtido pelo Plural via Lei de Acesso à Informação.
O estudo, realizado periodicamente desde 2013, atesta que ao menos 15% dos vegetais vendidos nos supermercados do Paraná contêm agrotóxicos proibidos ou em quantidades superiores aos permitidos por lei. As amostras foram coletadas entre março de 2019 e dezembro de 2021, com uma suspensão em 2020 por causa da pandemia da Covid-19.
A pesquisa verificou 466 amostras de alimentos de origem vegetal coletados nos Ceasas de Curitiba, Cascavel, Foz do Iguaçu, Londrina e Maringá e representativos da dieta da população paranaense.
Foram analisados abobrinha, alface, almeirão, agrião, abacaxi, banana, batata, brócolis, beterraba, cenoura, cebola, cebolinha, chuchu, couve, couve-flor, farinha de milho, farinha de trigo, goiaba, laranja, limão, manga, mamão, maçã, melão, pepino e repolho.
Os pesquisadores encontraram a presença de 291 agrotóxicos, muitos deles proibidos no Brasil e na União Europeia. As substâncias potencialmente nocivas à saúde, porém, podem ser mais que as identificadas pela pesquisa, cuja análise se limitou a 291 produtos.
Dentre os insumos examinados, pimentão, morango, uva, tomate, pepino e couve foram os alimentos classificados de risco crítico ou alto por terem as maiores concentrações de agrotóxicos proibidos ou em níveis acima do limite máximo permitido pela legislação.
Banana, couve-flor e farinha de milho foram os alimentos com o risco mais baixo. Os demais foram classificados como de risco moderado.
Alimentos contaminados nas escolas
O programa investigou também farinhas, frutas e hortaliças servidas nas escolas públicas estaduais, que diariamente fornecem alimentação a 1 milhão de alunos, durante os 200 dias letivos, nos 399 municípios do Paraná.
Das 249 amostras coletadas, 239 (96%) foram consideradas satisfatórias. Porém, as demais 10 amostras (4% do total) apresentaram agrotóxicos proibidos ou além dos limites estabelecidos por lei.
Se frutas e hortaliças servidos aos alunos têm baixo nível de agrotóxico se deve ao fato de que parte das compras da chamada pública são da agricultura familiar e grande parte dos alimentos adquiridos são orgânicos.
As amostras foram coletadas nas escolas estaduais que mais servem refeições nos municípios de Araucária, Campo Mourão, Cascavel, Chopinzinho, Colombo, Curitiba, Foz do Iguaçu, Guaraniaçu, Londrina, Maringá, Pato Branco, Paranavaí, Pinhais, Ponta Grossa e São José dos Pinhais.
Riscos para a saúde
Segundo os pesquisadores, há indicativos de que os alimentos classificados nos quatro graus de risco podem ter sido produzidos, em diferentes escalas, “sem a adoção total de boas práticas agrícolas para o uso de agrotóxicos”.
“A classificação em risco crítico ou alto pode ter maior correlação com a possibilidade de causar efeitos adversos à saúde da população se consumidos continuamente”, diz o relatório.
Como reduzir o veneno no prato
O estudo traz também dicas para reduzir a exposição aos agrotóxicos. São elas:
- Consuma alimentos de época. Nestes alimentos geralmente o uso de agrotóxicos é menor em razão das condições climáticas que favorecem o cultivo.
- Busque as informações contidas nos rótulos dos alimentos para ter conhecimento de quem os produziu e como foram produzidos, no intuito de se verificar a rastreabilidade dos mesmos. É importante saber quem produziu, o endereço e as informações de como foi produzido pois em caso de problemas ou irregularidades estas informações são necessárias para a devida rastreabilidade, busca por orientação, esclarecimento de dúvidas e possível responsabilização.
- Valorize a aquisição de produtos hortícolas diretamente do produtor rural em locais onde estes realizam a venda (feiras, pontos de venda e sacolão direto do produtor).
- Lave bem os alimentos antes de consumi-los. Retire as cascas dos alimentos sempre que possível. Esta prática não elimina os agrotóxicos que estão no interior dos alimentos, mas pode diminuir a quantidade dos resíduos de agrotóxicos que estão aderidos às cascas.
- Consuma alimentos orgânicos/agroecológicos, pois estão livres de contaminação por agrotóxicos. Especial atenção deve ser dada para os grupos vulneráveis da população, como crianças e adolescentes, idosos, gestantes ou indivíduos com comorbidades.
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