O Centrão está se preparando para novos embates com o governo Lula (PT). Após a demissão de Ana Moser do Ministério do Esporte, o PP agora almeja o controle total da Caixa Econômica Federal. Embora a mudança na presidência da Caixa esteja acordada, as negociações atingiram um impasse porque o Palácio do Planalto não está disposto a ceder os outros cargos do banco, informa o Estado de S. Paulo.
Na linguagem política, "porteira fechada" implica dar a um mesmo partido ou bloco autonomia para preencher todos os postos da estrutura sob sua direção. O Planalto concordou em nomear a ex-deputada Margarete Coelho como presidente da Caixa. No entanto, ele se recusa a entregar as 12 vice-presidências da instituição bancária para indicações do Centrão, que é composto principalmente pelo PP, Republicanos e União Brasil.
Margarete Coelho, aliada do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), atualmente ocupa o cargo de diretora de Administração e Finanças do Sebrae. A menos que ocorra uma reviravolta de última hora, ela substituirá Rita Serrano na presidência da Caixa. Rita Serrano, ligada ao PT, é vista no Congresso como uma especialista que não atende às demandas políticas. Diante das críticas, o presidente Lula concordou com a substituição antes de viajar para a Índia, em 7 de setembro, onde participou da reunião de cúpula do G20. No entanto, na prática, sua estratégia é ganhar tempo.
A posse dos deputados André Fufuca (PP-MA) no Ministério do Esporte e de Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE) em Portos e Aeroportos está agendada para esta quarta-feira (13), às 10h. A partir desse ponto, começa a segunda fase das substituições, desta vez em bancos e autarquias.
A diretoria de Habitação da Caixa, atualmente ocupada por Inês Magalhães, é um dos principais pontos de conflito entre o PT e o Centrão. Inês é responsável pelo programa Minha Casa, Minha Vida e já foi ministra das Cidades por um mês em 2016, às vésperas do golpe contra a então presidente Dilma Rousseff. O PT está fazendo esforços para mantê-la no cargo.
Outra questão em disputa é a definição das novas secretarias do Ministério do Esporte. A mais desejada pelo PP de Lira é a que cuidará da arrecadação dos impostos sobre apostas esportivas, com previsão de entrada de até R$ 12 bilhões por ano no caixa do governo quando o mercado estiver totalmente regulamentado. O conflito se deve ao fato de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e não o ministro do Esporte, terá a palavra final sobre o modelo dessa secretaria. A maior parte da arrecadação das apostas esportivas irá para a Fazenda, que também implementará medidas contra a lavagem de dinheiro.
Além da Caixa e dos cargos relacionados ao Ministério do Esporte, o Centrão tem como alvo a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Deputados do Republicanos, partido que agora lidera a pasta de Portos e Aeroportos, reivindicam o controle da Funasa. O PSD de Gilberto Kassab, secretário de governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, e o PP de Lira também estão interessados na autarquia. A pressão é para que a Funasa fique sob a supervisão do Ministério da Saúde, e não do Ministério das Cidades. Isso se deve ao fato de que a Saúde é responsável por mais da metade das emendas parlamentares individuais (R$ 11 bilhões de um total de R$ 21 bilhões). É por isso que o PP de Lira sempre tentou, sem sucesso, assumir a cadeira de Nísia Trindade, a atual titular da pasta.