O cardápio do brasileiro está ficando cada vez mais escasso. Com o aumento no custo dos alimentos, impulsionado pelo preço do petróleo, pelo câmbio, e também por questões sazonais internas, adaptações precisaram ser feitas no menu.
Uma nota de R$ 50 não compra nem metade do que comprava há dez anos na cidade de São Paulo. Entre julho de 2020 e abril de 2022, o quilo da carne subiu 46% na capital paulista. O preço da cesta básica do município aumentou 43% em quatro anos. Hoje custa R$ 804 – e é a mais cara do país.
Os hortifrútis têm o custo influenciado pela dinâmica sazonal. No caso do tomate e da batata, diferentemente de outros anos, em que o preço aumentou na entressafra e baixou na safra, em 2022, o valor subiu e não parou mais. O quilo da batata chegou a R$ 8, e o do tomate, a R$ 13. O =igualdades desta semana faz um raio X da inflação dos alimentos no Brasil.
Na média, São Paulo é a capital com a cesta básica mais cara do país. Empurrados pela inflação, os preços dos alimentos vêm crescendo sem parar nos últimos anos e já consomem cerca de 72% do salário mínimo líquido de um paulistano. Há dez anos, com R$ 50 uma pessoa conseguiria encher o carrinho de supermercado com café, banana, arroz, leite, farinha, manteiga e feijão. Hoje, o valor compraria apenas café e banana.
Ano a ano, cresce o preço da cesta básica na cidade de São Paulo. Em quatro anos, a despesa aumentou em 43%. Em abril de 2018, todos os alimentos da cesta somavam R$ 561, em valores corrigidos pela inflação. No mesmo período deste ano, custavam R$ 804.
No Rio de Janeiro, uma cesta básica com carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, legumes (tomate), pão francês, café em pó, frutas (banana), açúcar, óleo e manteiga custava, em média, R$ 768 no mês passado. O valor corresponde a 69% do salário mínimo líquido. A mesma cesta há um ano custava R$ 700 com valores corrigidos pela inflação. O que um carioca gasta a mais com uma cesta básica atualmente, na comparação com 2021, permitiria comprar dezessete passagens de ônibus para circular pela Cidade Maravilhosa.
Em abril de 2022, a cesta básica chegou a R$ 788 em Florianópolis – segunda capital mais cara. A inflação tem atingido com força os alimentos, mas não condiz com o salário. Com a cesta chegando a esse valor, 70% do salário mínimo líquido na cidade é abocanhado pelos alimentos. Há dez anos, em abril de 2012, a situação era diferente: a cesta valia bem menos, cerca de R$ 258 e correspondia a 45% do salário.
É comum haver uma variação anual no preço de legumes e verduras devido à sazonalidade. A inflação dos hortifrútis neste ano teve como causa as fortes chuvas de verão, que afetaram as culturas de curto prazo. Com isso, a produção caiu abruptamente, fazendo com que o preço aumentasse. Diferentemente de outros anos, em que o preço da batata e do tomate aumentou na entressafra e baixou na safra, em 2022, o valor subiu e não parou mais, chegando a R$ 8 o quilo do tubérculo e R$ 13 da fruta. De acordo com Guilherme Moreira, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), está cada vez mais difícil definir os períodos de safra e entressafra em razão das mudanças climáticas.
Em quase dois anos, a carne tem encarecido sem parar – alcançando um aumento de quase 50% nas prateleiras e açougues da capital paulista. Em julho de 2020, a carne custava R$ 32, e no mesmo período em 2021, chegou a R$ 44. Em abril de 2022, a carne atingiu os inéditos R$ 47. O encarecimento também chegou no óleo de cozinha, que saiu de R$ 4 para R$ 8 entre junho de 2020 ao mesmo período de 2021. Agora, o item ultrapassou R$ 10 – mais do que dobrando em relação há dois anos. Matheus Peçanha, economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), explica que o preço da carne sofreu impactos mais bruscos devido ao câmbio e ao mercado externo.
Desde abril de 2015, os valores da manteiga e do pão não param de subir: o quilo do pão custava R$ 10 na cidade de São Paulo, enquanto o quilo da manteiga, R$ 22. Sete anos depois, a manteiga mais que dobrou, chegando a R$ 58, e o pão agora custa R$ 16. Peçanha explica que, a partir de 2020, os grãos sofreram aumento de preço em razão da seca gerada pelos efeitos do La Niña. Com o aumento do preço da farinha, não há como segurar o valor do pão.
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