O lema “as sementes são patrimônio dos povos, a serviço da humanidade” norteou a inauguração da Casa de Sementes da Escola Latino-Americana de Agroecologia (ELAA). O evento ocorreu na sexta-feira (22), na sede do Assentamento Contestado, no município de Lapa, no Paraná. Mais de 300 pessoas participaram da atividade.
A Casa de Sementes faz parte de um conjunto de ações em torno do marco dos 18 anos da Escola na promoção da agroecologia, sendo um espaço de articulação, troca de experiências agroecológicas e no cuidado com a semente crioula.
Neste período inicial, a casa já conta com mais de 40 kg de sementes de 30 variedades diversas, entre grãos, olericulturas e frutíferas que poderão ser partilhadas com agricultores. O objetivo é ampliar para centenas de tipos de sementes.
“O camponês sabe do cuidado, do carinho e do zelo em depositar cada semente na terra. Ao nascer uma planta vemos uma vida nascer, germinar. Isso mostra a relação que o camponês e a camponesa têm com a terra, com a água e com as plantas". Zimpel continua ainda relembrando que “a semente é a base estrutural do nosso projeto de vida e de sociedade”, destacou Bruna Zimpel, da direção nacional do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
O integrante da coordenação da ELAA, Nei Orzekovski, enfatizou o significado ancestral das sementes para o povo camponês, muitas vezes cultivando as variedades por gerações. “Para um agricultor, perder a semente é perder um pedaço da vida, por isso a importância de preservar e cuidar”, considerou.
Atualmente, existem cinco casas de sementes no Paraná que realizam a conservação e o resgate da história de casa de semente crioula. Renato Kovalski, da organização Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA) e da Rede Sementes da Agroecologia (ReSA), ressaltou que “o trabalho de resgate das sementes não é apenas ter milho e um feijão crioulo, mas resgatar no milho e no feijão a história de cada família camponesa”.
A conquista da Casa de Semente vem sendo semeada e cultivada ao longo dos últimos anos e tornou-se possível neste momento a partir da articulação entre ELAA, Coletivo Triunfo, AS-PTA e ReSA.
Somaram-se como parceiros para a execução do projeto o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU), por meio de um edital de fomento da Assistência Técnica de Habitação de Interesse Social (ATHIS) e do Ministério Público do Trabalho no Paraná (MPT-PR), pelo fomento do Projeto Emergencial de Conservação e Multiplicação da Agrobiodiversidade no Paraná (PECMAP).
“A agroecologia sem a produção de sementes que não sejam transgênicas e contaminadas por agrotóxicos ou comercializadas pelas empresas que dominam esse comércio fica limitada. É preciso pensar em todas as etapas. Desde o início, com as sementes, a produção de mudas, a distribuição e o incentivo à continuidade da produção sem veneno. E que seja amplamente disseminado no país todos”, defendeu Margaret Matos de Carvalho, procuradora do MPT-PR.
A estrutura da casa foi construída por meio de mutirões de construção de canteiros pedagógicos por camponeses do MST, assentados e acampados da Brigada Cacique Guairacá, da região centro-sul, e da Brigada Emiliano Zapata, da região sul do estado. Trabalhadores e trabalhadoras da ELAA e estudantes do curso Tecnólogo em Agroecologia da ELAA também se somaram aos trabalhos.
O processo de construção utilizou a técnica do hiperabobe, técnica de bioconstrução que fez o resgate de técnicas construtivas dos camponeses ancestrais com utilização dos materiais próprios do território como terra, argila, madeiras e outros. Com uma estrutura de cerca de 50 m², o funcionamento da Casa de Sementes atenderá aos assentados e pequenos agricultores da região, sendo um dos principais locais de zeladoria de sementes.
Na ocasião da inauguração, a ELAA recebeu uma menção honrosa da Assembleia Legislativa do Paraná, proposta pelo deputado professor Lemos (PT), entregue à coordenação da escola.
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