A retomada mais lenta à normalidade de setores como comércio e serviços, a previsão de menor crescimento na economia mundial, custos de produção cada vez mais caros e fatores macroeconômicos podem explicar o desempenho da indústria do Paraná abaixo do esperado em abril. Dados divulgados nesta quinta-feira (9/6), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam queda de 4,3% na produção em relação a março. O Brasil teve discreta alta de 0,1%, enquanto os vizinhos Santa Catarina e Rio Grande do Sul terminaram o mês com altas de 3,3% e 0,5%, respectivamente.
Já quando se comparam os dados de agora com o mesmo mês de 2021, a indústria estadual encolheu 6,6%, recuo maior do que o resultado nacional (-0,5%) e de Santa Catarina (-5,6%). Rio Grande do Sul cresceu 0,5%. De janeiro a abril deste ano, a indústria da região Sul está em baixa. O Paraná registra retração de 3,6%, muito parecida com os 3,4% de queda do indicador geral do país. Os dois estados vizinhos também acumulam desempenho negativo, de 8,1% (SC) e de 1,5% (RS) no período.
O cenário no Paraná só melhora quando se avalia a performance dos últimos 12 meses. A produção industrial do estado registra elevação de 2,1%, entre maio de 2021 e abril deste ano. Santa Catarina tem leve alta de 0,1%, assim como Rio Grande do Sul, com 2%. A produção nacional encolheu 0,3% nesse período.
Para o economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Evânio Felippe, os resultados estão sendo influenciados por fatores macroeconômicos no Brasil e no exterior, pela alta no preço de insumos e matérias-primas no mercado internacional e pela guerra no Leste europeu. Outro fator relevante no mercado interno é fraca demanda. “Os estímulos de consumo não estão sendo suficientes para gerar aumento da produção industrial no estado. Pelo contrário. Os dados divulgados recentemente sobre o comércio varejista apontam um recuo forte no volume de vendas do setor, o que ajuda a explicar essa desaceleração no ritmo de produção nas fábricas”, argumenta o economista.
A perda de fôlego do setor industrial é visível quando comparada com o ritmo do primeiro quadrimestre de 2021. Na época, o setor crescia vigorosos 18,9%, enquanto agora cai 3,6% este ano. Para o economista, embora o cenário em relação à pandemia fosse pior no ano passado, a retomada esperada de setores de comércio e serviços não tem acontecido como se esperava. “Estes segmentos têm peso forte da atividade econômica do país. Essa recuperação mais lenta não é suficiente para gerar um maior dinamismo à economia e gerar aumento na demanda para as indústrias”, reforça Felippe.
No Paraná, segundo dados do IBGE, o volume de vendas do comércio varejista retraiu 2,2% este ano. Os combustíveis acumulam queda de 6,7% no estado, assim como automóveis (-5,2%); móveis e eletrodomésticos (-14,1%); e hipermercados (-1,2%). “Se não há consumo, as encomendas nas indústrias caem, diminuindo a produção nas fábricas.”, exemplifica o economista. “O setor de produção de alimentos representa de 30% a 33% do PIB industrial do estado. Automotivo e segmento de petróleo, gás e etanol também têm participação importante nessa conta”, alerta.
Setores industriais:
Das 13 atividades avaliadas pelo IBGE, apenas quatro estão com resultado positivo neste primeiro quadrimestre de 2022. Bebidas, com alta de 32,4%; papel e celulose (2%), produtos químicos (1,2%); e máquinas e equipamentos (1,1%). Entre as nove que ficaram negativas, o mais prejudicado é o setor moveleiro, com queda de 22,4%. Em seguida vêm máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-21,5%), fabricação de produtos de metal (-9,8%), minerais não-metálicos e madeira, ambos em queda de 8,4%.
Para os próximos meses, o economista acredita que fatores macroeconômicos, período eleitoral e câmbio terão um peso grande no desempenho da indústria. Informações do Banco Mundial dão conta de que a desaceleração da atividade econômica global deve chegar a 2,9% em 2022. A guerra na Ucrânia e os lockdowns na China para conter a nova onda da covid 19 também pressionam os custos de insumos e matérias-primas utilizados na indústria, além de desestruturar as cadeias de fornecimento, encarecendo esses itens.
Outro reflexo nos preços é a volatilidade da taxa de câmbio. Segundo Felippe, tradicionalmente, ela se comporta em tendência de alta em período de eleições majoritárias no país e influencia diretamente nos custos de produtos comprados de fora. Quanto mais alta a taxa, mais caro fica para importar mercadorias e insumos do exterior. “Estes fatores, somados a uma inflação resistente, que desestimula o consumo, e a taxas de juros elevadas, que inibem empréstimos para investimentos, devem tornar os próximos meses desafiadores para a indústria paranaense”, conclui o economista.