A primavera se aproxima – começa no dia 23 de setembro (um sábado) – e os paranaenses já começam a se despedir do inverno, que foi atípico. Uma prova disso é que ontem foi publicado o último boletim do Alerta Geada, serviço que ocorre anualmente e foi iniciado em maio deste ano. E durante o período de operação, nenhum alerta foi expedido em 2023, enquanto no ano passado foram liberados 22 avisos de alerta para geadas com potencial de causar riscos à atividade agrícola no mesmo período, entre maio e setembro.
O Alerta Geada, um serviço desenvolvido pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) em parceria com o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), emite durante o período de operação boletins diários com previsões de temperatura e o risco de geadas no estado. O objetivo é informar com antecedência aos produtores rurais do Paraná, em especial aqueles que se dedicam à cafeicultura, a possibilidade de ocorrer ondas de frio com potencial de causar danos à agropecuária.
O inverno de 2023, no entanto, foi mais ameno do que de costume e nenhum alerta foi expedido entre maio e setembro. Bem diferente do que houve no ano passado, quando foram liberados 22 avisos de alerta para geadas com potencial de causar riscos à atividade agrícola.
Além dos dados do Alerta Geada, a Plataforma de Monitoramento de Geadas, do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), também aponta para um “desaparecimento” das geadas no Paraná em 2023.
Neste ano, as estações convencionais do INMET (que contam com um observador meteorológico que visualmente constata o fenômeno e faz o registro da ocorrência e sua intensidade) anotaram apenas uma ocorrência de geada no estado, registrada em 18 de junho no município de Irati, na região dos Campos Gerais, e de intensidade moderada.
No ano passado, também entre 1º de janeiro e 13 de setembro, foram 11 registros de geadas no estado (10 delas em Irati e uma em Maringá, no Norte do estado), sendo umadessas ocorrências de intensidade fraca (a única em Maringá), seis consideradas moderadas e quatro com intensidade forte.
Cafeicultura está presente em quase metade dos municípios paranaenses
A cafeicultura ocupa cerca de 30 mil hectares no Paraná, com produção estimada para este ano de 700 mil sacas beneficiadas. A cultura está presente em 187 dos 399 municípios paranaenses, sendo a principal atividade econômica em mais de 50 deles. Cerca de 80% das propriedades cafeeiras são de pequena agricultura familiar.
Para proteger esse patrimônio do Estado no inverno, a recomendação do serviço Alerta Geada é amontoar terra até o primeiro par de folhas no tronco dos cafeeiros com idade entre seis e 24 meses, já no início da estação fria, para proteger as gemas e evitar a morte da planta no caso de geada severa. Essa prática é chamada de “chegamento de terra” pelos cafeicultores e técnicos do setor.
A terra que protege os troncos dos cafeeiros deve ser mantida até meados de setembro, e então retirada preferencialmente com as mãos.
Em plantios novos, com até seis meses de idade, a recomendação é simplesmente enterrar as mudas quando houver emissão de alertas. A proteção de viveiros deve ser feita com várias camadas de cobertura plástica. Nos dois casos, a proteção deve ser retirada rapidamente, assim que a massa de ar frio se afastar e cessar o risco imediato de geada.
Frio teve
O que aconteceu com as geadas no estado?
De acordo com a meteorologista Ângela Costa, apenas duas ondas de frio percorreram o Paraná (entre 17 e 20 de junho e de 13 a 15 de julho) e com pouca intensidade, provocando apenas geadas fracas a moderadas no Sul do Estado. “Na maior parte do tempo, a presença de um bloqueio atmosférico impediu que massas de ar polar entrassem na região”, explica a especialista, afirmando ainda que esse bloqueio foi causado por massas de ar quente e seco que estacionaram nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, causando dificuldades à circulação de ventos e massas de ar frio.
Ainda conforme a pesquisadora, essa condição atípica do inverno no Paraná também ocorreu devido à atividade do El Niño, fenômeno que se caracteriza pelo aumento da temperatura na superfície das águas do Oceano Pacífico equatorial, com reflexos nos padrões de chuva e temperatura em todo o planeta. “Para se ter uma ideia, tivemos na estação meteorológica de Londrina 34,9 ºC no dia 23 de agosto, a temperatura mais alta registrada este ano”, conta Ângela.
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