Repercute nos meios políticos de Brasília e no mercado financeiro reportagem da revista britânica The Economist segundo a qual investiores estão cada vez mais otimistas com a economia do Brasil. Uma das mais importantes do mundo na área econômica, a publicação associa as perspectivas otimistas aos primeiros seis meses do novo governo do presidente Luiz Inacio Lula da Silva.
A revista reporta, inclusive, a mudança do humor do mercado desde que Lula foi eleito pela terceira vez no ano passado, quando “os investidores estremeceram”. “Muitos temiam um retorno à libertinagem fiscal que caracterizou o governo anterior do PT (de Dilma Rousseff)”, diz a revista, que aponta a “profunda recessão” em que terminou o ano de 2016.
De acordo com a matéria, intitulada “Investidores estão cada vez mais otimistas com a economia brasileira”, fatores externos positivos se aliam às políticas que estão sendo implementadas pelo governo. No cenário, a publicação destaca o ministro da Fazenda. “Muitos economistas creditam a Fernando Haddad grande parte do otimismo”, diz The Economist.
Duas importantes reformas
Segundo a matéria, o ministro “está por trás” das duas importantes reformas em andamento que “poderiam colocar o Brasil em uma base mais estável”. Uma, a proposta de emenda à Constituição da reforma tributária aprovada na Câmara dos Deputados no dia 7 de julho, discussão que “está em andamento há três décadas”.
A outra é a nova estrutura fiscal que o Congresso deve aprovar ainda este ano, e que tende a “estabilizar as finanças públicas”, acrescenta, em referência ao arcabouço fiscal, “que substituirá um rígido teto de gastos datado de 2016”, no governo de Michel Termer. Ao ser aprovado no Senado, o texto sofreu alterações em relação ao que saiu da Câmara. Por isso, voltará a ser apreciado pelos deputados.
Fatores externos
Entre os fatores externos que ajudam a incentivar uma melhor perspectiva para o Brasil está o crescimento das exportações de grãos pela agricultura brasileira, o que é decorrência da guerra na Europa. Com o conflito, ficam comprometidas as exportações dos maiores produtores de grãos do mundo: Rússia e Ucrânia.
O agro brasileiro também se beneficia da suspensão, pela China, das restrições impostas pela pandemia, o que aumenta a demanda por alimentos. “Ambos os fatores tornaram os grãos brasileiros mais procurados”, diz a revista, salientando que só as exportações de soja podem responder por um quinto do crescimento econômico brasileiro este ano, proporcionando aumento do superávit comercial do país, “que já é grande”.
Paralelamente, muitos investidores estão se voltando para os mercados emergentes devido às crescentes tensões entre os Estados Unidos e China. E a possibilidade de que os EUA reduzam as taxas de juros no próximo ano. O possível acordo de livre comércio entre União Europeia e o Mercosul ajuda no otimismo.
Tudo isso se soma ao fato de que os investidores “também estão de olho no potencial do Brasil para produzir energia limpa e nas ambições de Lula de tornar o país uma potência verde”, diz ainda revista britânica.
Revista faz ressalvas
Entretanto, The Economist também faz ressalvas que, segundo os editores, indicam que “o otimismo deve ser moderado”. São elas:
- Os detalhes da reforma tributária ainda não foram definidos; e os lobbies, como do agronegócio, pressionam por isenções de impostos “que podem incluir um grande número de produtos”;
- também não é certo que o governo consiga colocar suas finanças em ordem e que as metas sejam cumpridas;
- a não ser pela agricultura, a produtividade brasileira “não cresce há três décadas”, o que exige “uma política consistente para reverter a tendência de longo prazo do Brasil”.
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