O financiamento de medidas voltadas ao combate às mudanças climáticas quase dobrou entre 2011 e 2020, segundo relatório da ONG Climate Policy Initiative. No período, os recursos destinados ao clima passaram de US$ 364 bilhões para US$ 665 bilhões (ou R$ 1,9 trilhão para R$ 3,5 trilhões, na cotação atual). A estimativa é que tenham chegado a US$ 850 bilhões (mais de R$ 4,5 trilhões) em 2021.
O Global Landscape of Climate Finance compilou dados de investimentos ambientais de aproximadamente 20.000 agentes dos setores público e privado nos últimos 10 anos. A previsão é que, até 2030, sejam necessários em média US$ 4,3 trilhões (R$ 33 trilhões) anuais para projetos em áreas como neutralização de carbono, produção de energia limpa e infraestrutura de transportes.
O total desses valores nos próximos 8 anos resultaria em um investimento total de US$ 34,4 trilhões (R$ 182,4 trilhões) de todos os países somados. Eis a íntegra do relatório (2,7 MB, em inglês).
A depender do cenário para o cumprimento das metas do Acordo de Paris, porém, o montante necessário no final desta década pode chegar a US$ 9,3 trilhões (quase R$ 50 trilhões). Em 2050, a estimativa varia de US$ 6,2 trilhões a US$ 14,1 trilhões.
No período de 2011 a 2020, o financiamento climático total foi de US$ 4,8 trilhões (R$ 25,5 trilhões), com crescimento anual médio de 7%. Segundo o relatório, embora a taxa tenha elevado os investimentos ao maior patamar da história, “os níveis atuais de aumento não estão no caminho certo para atender a um cenário de aquecimento global de 1,5°C”.
A geração de energia renovável representou a maior fatia dos investimentos em 2020: US$ 346 bilhões (R$ 1,8 trilhões). Mas projetos para reduzir a emissão de carbono nos transportes são os que mais tiveram crescimento de aporte nos últimos 5 anos, segundo o Climate Policy Initiative. Os benefícios vieram principalmente na forma de concessões e subsídios governamentais.
O relatório, porém, destaca a baixa atração de recursos para agricultura, florestas e uso do solo, área responsável por 20% das emissões de gases no planeta. Os setores da indústria e de água e esgotos, “todos com potencial para amadurecer”, também estão “ficando para trás” no radar dos investimentos.
SETOR PÚBLICO X SETOR PRIVADO
A origem dos recursos se dividiu entre governos e o setor privado –majoritariamente representado por corporações e instituições financeiras. Contudo, o relatório indica que, embora agentes privados tenham aumentado seu percentual de contribuição, “a taxa de crescimento anual média foi de só 4,3%, em comparação com 9,1% do setor público entre 2011 e 2020”.
“O setor público tem sido vital na canalização de financiamento para setores de difícil investimento, como agricultura e adaptação. No entanto, ainda há espaço para que as finanças públicas assumam mais riscos e criem ambientes propícios necessários para desbloquear mais fundos de capital”, avalia a organização.
PRINCIPAIS METAS DA DÉCADA
Segundo o relatório, os esforços da comunidade global para mitigar os impactos da mudança climática devem se concentrar em 4 áreas prioritárias até 2030:
- Adoção de estratégias setoriais: identificar áreas prioritárias com baixa atração de investimentos, aumentar a integração entre áreas complementares e o planejamento para contenção de crises;
- Mudança do paradigma financeiro: estímulo a estratégias de investimento de longo prazo por meio de mecanismos financeiros compensatórios aplicados em escala e aumento da cooperação entre empresas;
- Expandir ambientes propícios para atrair o financiamento privado: promover incentivos fiscais em setores de baixo retorno no curto prazo, remover benefícios voltados a combustíveis fósseis, reduzir nos custos de tecnologia e criar ambientes de previsibilidade para acelerar a transição ecológica;
- Transparência nos dados de financiamento climático: buscar uma definição universal de gastos climáticos entre os setores público e privado.