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No pior surto de Covid-19 desde Wuhan, China repensa medidas de controle

O país entrou em alerta, várias regiões impuseram restrições a viagens e milhões foram submetidos a testes

No pior surto de Covid-19 desde Wuhan, China repensa medidas de controle
Marcelo Ninio
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O novo surto de Covid-19 que se espalhou pela China jogou um balde de água fria nas expectativas do país de que as rígidas medidas de controle e a vacinação em massa seriam suficientes para manter a população numa zona de conforto. Nos últimos dez dias, mais de 350 casos foram identificados (sem mortes) em 18 das 22 províncias e dezenas de cidades.

Pode parecer insignificante em países que ainda convivem com níveis diários de transmissão na casa dos milhares, como o Brasil e os Estados Unidos, mas foi recebido com alarme pelo governo chinês e sua política de Covid zero. O jornal estatal Global Times descreve o atual surto como "o mais sério desde Wuhan", o marco zero da pandemia, e criticou num editorial "as brechas" nas medidas de prevenção. O país entrou em alerta, várias regiões impuseram restrições a viagens e milhões foram submetidos a testes.

O desafio é repensar a política de contenção, que vinha tendo nítido sucesso, diante da variante Delta do vírus e sua alta taxa de contágio. A maioria dos casos detectados está ligada a um surto na cidade de Nanquim, e o governo atribui a progressão da variante Delta ao aumento de viagens pelo país motivado pela temporada de férias de verão. Um dos principais focos de transmissão foi o popular parque de Zhangjiajie, na região central, onde fica o mágico cenário montanhoso que inspirou o filme Avatar.

De acordo com números oficiais, mais de 1,6 bilhão de doses da vacina contra o vírus já foram aplicadas no país, embora não esteja claro quantas pessoas estão totalmente imunizadas. No sábado, um pesquisador do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China disse à imprensa que surtos entre pessoas vacinadas "eram esperados".

Também era esperado que o aumento de casos no país levantasse dúvidas sobre a eficácia das vacinas chinesas. O epidemiologista mais conhecido do país, Zhong Nanshan, procurou tranquilizar o público quanto a isso. Segundo ele, estudos mostram que a proteção dos imunizantes nacionais para sintomas severos é de 100%, e para os moderados de 76,9%.

Desde que surgiu na Índia, no fim de 2020, a variante Delta tornou-se a mais comum em boa parte do mundo. Estima-se que ela seja duas vezes mais contagiosa que o vírus original. Publicado na revista Nature, um estudo do virologista chinês Jing Lu, de Cantão, concluiu que o vírus é detectado no organismo quatro dias após a exposição à variante Delta, enquanto para a cepa original leva seis dias. Outra descoberta foi que a carga viral dos indivíduos infectados pela variante era 1.260 maior.

Juntando os dois resultados, explica-se o seu alto poder de contágio, afirma no mesmo artigo o epidemiologista Benjamin Cowling, da Universidade de Hong Kong. Em mensagem enviada à coluna, Cowling mostrou-se convencido de que as medidas implementadas até agora pelas autoridades chinesas serão suficientes para barrar a progressão da variante Delta. Para ele, "a China tem mais capacidade do que qualquer outro país do mundo para conter surtos de Covid-19 e levar o número de casos de volta a zero".

— Eu acho que o controle será atingido por meio de uma combinação de testes em massa, isolamento rígido de casos, rastreamento digital e quarentena. O mais provável é que qualquer pessoa que saiu de Nanquim para outras partes da China no último mês esteja sendo rastreada e repetidamente testada, porque zerar os casos é um elemento-chave da política de “Covid zero” implementada na China — disse Cowling.

As autoridades sanitárias aqui de Pequim emitiram um alerta aos moradores, recomendando que não saiam da cidade. Depois de seis meses sem casos de transmissão local de Covid-19, o que gradualmente levara a um relaxamento em medidas de prevenção como o uso de máscaras e do aplicativo de rastreamento no celular, a capital entrou novamente em alerta devido ao aparecimento de dois casos nos últimos dias. Funcionários de várias empresas foram proibidos de deixar a cidade.

Em outras partes do país, o surto levou governos locais a tomar medidas mais "criativas" para conter o vírus. Uma delas é a delação premiada. Os moradores de Yangzhou, na província costeira de Jiangsu, estão sendo incentivados a relatar às autoridades pessoas que estiveram em áreas consideradas de alto risco de transmissão. A recompensa prometida é de 5 mil yuans (R$ 4 mil). Se o teste de Covid-19 do delatado der positivo, o prêmio é em dobro. A rapidez também é recompensada: o governo avisou que, se mais de uma pessoa fizer a mesma delação, ganha quem delatar primeiro.

FONTE/CRÉDITOS: O Globo
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