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País espera há duas semanas que Bolsonaro explique origem do dinheiro vivo

O presidente ainda não veio a público para se explicar sobre a origem dos recursos

País espera há duas semanas que Bolsonaro explique origem do dinheiro vivo
UOL
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Duas semanas após a revelação de que o clã Bolsonaro adquiriu 51 imóveis usando dinheiro vivo num país onde até pão francês é comprado no débito, o presidente ainda não veio a público para se explicar sobre a origem dos recursos. O que reforça a suspeita de que não há explicação - pelo menos, não uma que possa ser contada ao lado da polícia.

O uso de grandes quantias de dinheiro vivo na compra de imóveis é uma forma usada para lavar recursos de procedência ilegal. Normalmente, a prática é adotada por traficantes, milicianos, golpistas e organizações criminosas a fim de evitar que órgãos do governo, como o Coaf, identifiquem operações estranhas e as investiguem.

Após a minuciosa investigação de Juliana Dal Piva e Thiago Herdy, do UOL, publicada no dia 30 de agosto, o presidente primeiro questionou "qual o problema, comprar alguns imóveis com dinheiro vivo?", como se falasse de jujubas. Diante da reação negativa, começou a vender a ideia de que não foi dinheiro vivo, mas moeda corrente.

A justificativa é semelhante a alguém ser pego no flagra em um caso extraconjugal e dizer que aquilo não é sexo, mas uma reunião de trabalho. Mas os seguidores fiéis do presidente precisavam de uma resposta para poderem repetir nas redes sociais e tentar reduzir o dano junto aos eleitores indecisos.

Na entrevista que nos concedeu no UOL, nesta segunda (12), o ministro das Comunicações, Fábio Faria, defendeu que parte das aquisições é de ex-cunhados e ex-esposas do presidente, sobre quem Jair não teria gerência. Mas investigações do UOL e do Ministério Público do Rio de Janeiro já haviam apontado a participação de ex-cunhados e ex-esposa no esquema de desvios de salários dos gabinetes de Bolsonaro e de seus filhos.

Por exemplo, em um áudio, Andréa Siqueira Valle, ex-cunhada de Jair, afirma que o irmão, André, foi demitido do cargo de assessor do então deputado federal por não devolver para o hoje presidente a parte do salário que estava combinado na mutreta.

"O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6 mil, ele devolvia R$ 2 mil, R$ 3 mil. Foi um tempão assim, até que o Jair pegou e falou: 'Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo'", disse Andrea, irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-esposa do presidente.

Cunhado pode não ser parente, como defendem os aliados do presidente. Mas há indícios de que foram usados para lavar dinheiro.

Ao invés de vir a público e esclarecer a origem de todos esses recursos, ou pelo menos os recursos que dizem respeito a ele e seus filhos, como aqueles que compraram a mansão do senador Flávio Bolsonaro, o presidente usou seu horário de propaganda eleitoral na TV para atacar a reportagem.

Bolsonaro vem batendo no peito que ele e seu governo são incorruptíveis, apesar das denúncias de apropriação de salários de servidores, de cobrança de propina para a compra de vacinas ou de pastores indicados por ele pedirem barras de ouro para dar acesso ao Ministério da Educação.

Desde a década de 1990 até agora, foram 107 imóveis negociados por ele e sua família, dos quais 51 adquiridos total ou parcialmente com grana em espécie, segundo declarações dos próprios envolvidos, consultadas em cartórios pelos jornalistas e checadas através de entrevistas e de consultas a processos judiciais.

Ficamos sabendo, no final de 2018, através de uma reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, que o gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro usava funcionários fantasmas que repassavam parte de seus salários de volta ao clã, através do assessor Fabrício Queiroz. O escândalo ficou conhecido como "rachadinha", mas é corrupção mesmo.

Investigações publicadas no UOL mostraram que esse dinheiro era sacado em grandes quantias e ia se convertendo em imóveis. O gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro também apareceu no esquema, que teve de tudo, até repasse de recursos à família de um dos mais temidos milicianos do Rio de Janeiro, Adriano da Nóbrega.

O presidente que defende tanto a "transparência" nas eleições deveria usar o tempo que a Justiça Eleitoral garantiu a ele na TV para explicar de onde vem o dinheiro com o qual ele e seu clã compraram tantos imóveis. Como diz o Evangelho de João, capítulo 8, versículo 32: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".

FONTE/CRÉDITOS: UOL

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