Após voltar da praia, Daniela Biondo Crocetti percebeu que a filha de 9 anos estava meio “caidinha” e querendo colo o tempo todo. Não demorou muito para perceber que a menina estava se queixando de náusea, dor de barriga e meio febril. “Liguei para a pediatra que logo apresentou o diagnóstico de virose e disse para hidratar bem ela e ficar de olho casos os sintomas não cedessem”, conta. “Mas bastou medicá-la que ela foi melhorando”.
O relato de Daniela é muito comum nos meses mais quentes do ano. As viroses são doenças comuns que costumavam atormentar os pais sazonalmente, mas após a pandemia do vírus Covid-19, elas passaram a marcar presença o ano todo. “O que a gente observou é que pós-pandemia nós tivemos uma mudança na sazonalidade de alguns vírus. Por exemplo, Influenza, o Vírus Sincicial Respiratório e Adenovírus, que antes da pandemia apareciam muito no inverno, hoje temos eles atingindo picos de contaminação em todas as estações do ano”, explica o infectologista pediátrico Victor Horácio do Hospital Pequeno Príncipe.
Com essas mudanças, as viroses ficaram tão presentes no cotidiano a ponto de muitas pessoas atribuírem qualquer problema gastrointestinal a elas. Com isso, houve um aumento da dificuldade dos pais identificarem a doença dos filhos. E, de modo geral, se manifestam com mais força.
A pediatra infectologista Marion Burger, coordenadora da divisão de doenças transmissíveis agudas do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, ressalta que no caso do verão, os quadros de diarreia costumam ser tradicionalmente mais comuns. A questão é saber se resultam de uma intoxicação alimentar, uma infecção bacteriana, de vírus ou vermes.
A médica cita que, de modo geral, a identificação pode estar associada ao tempo de manifestação dos sintomas. No caso da intoxicação alimentar os sintomas aparecem entre 6 e 12 horas após a ingestão do alimento contaminado. Já nas viroses, os vírus costumam ficar entre 1 e 3 dias incubados antes dos sintomas aparecerem e nas infecções bacterianas, o intestino geralmente concentra os sintomas.
A pediatra ressalta que, no caso dos vômitos que não cessam, é importante procurar um médico. “Porque se o vômito não passar a pessoa não irá conseguir se hidratar, o que é fundamental para um quadro diarreico”, afirma. Marion pontua que ser importante lembrar que não são apenas as crianças que podem ser afetadas por viroses. “Os idosos também podem ser acometidos por esses quadros e precisam de tanta atenção quanto as crianças devido ao risco de desidratar”, diz. O alerta é para crianças com menos de um ano e idosos com mais de 80 anos.
De modo geral, Marion alerta que, no caso de virose e intoxicação alimentar, quando mais rápido o que causou o mal sair do organismo, mais rápido ocorrerá a melhora. “Por isso, é importante ingerir bastante líquido e ficar de olho na hidratação”, ressalta.
AGENTES: CAUSAS DAS VIROSES
Horácio explica que as viroses são doenças causadas por agentes infecciosos que tem um padrão na grande maioria das vezes autolimitado. As viroses mais comuns no público infantil até os dois anos, são as respiratórias depois elas tendem a ser as gastrointestinais e, no período da primeira infância até os 5, 6 anos de idade, são os que nós chamamos de doenças exantemáticas ou doenças próprias da infância, como por exemplo, varicela, exantema súbito, sarampo, eritema infeccioso, que são doenças virais e que afetam bastante crianças
O médico ressalta que os sintomas clássicos de virose dependem do padrão do órgão afetado. Por exemplo, no quadro respiratório são coriza, tosse seca e febre baixa. No quadro gastrointestinal é uma diarreia que pode vir acompanhada de náuseas e vômitos sem a presença de sangue nas fezes. “E no quadro do rash cutâneo, que são as lesões de pele, são manchas na pele que geralmente desaparecem com dígito-pressão, que é quando você coloca o dedo e aperta em cima da lesão”, diz.
Os tratamentos para virose geralmente são sintomáticos. “Então as doenças respiratórias as vezes inalação com medicamentos. Nos quadros gastrointestinais hidratação e nas doenças exantemáticas antitérmicos”, explica. A dica para os pais diante da persistência desses sintomas, a dificuldade no controle e a intensidade com que eles podem aparecer na criança é a procura de atendimento médico.
“Em relação a prevenção, o indicado ficar em ambiente ventilado, se alimentar bem, ingerir bastante líquido, bons hábitos noturnos e principalmente higienização das mãos porque elas são os principais transmissores desses vírus”, finaliza o infectologista pediátrico Victor Horácio.