Apenas 16,9% dos(as) professores(as) da rede estadual do Paraná afirmam que as plataformas tecnológicas utilizadas em sala de aula melhoraram a aprendizagem dos(as) estudantes. Para 40,3%, a aprendizagem piorou. Já 42,7% dizem que os resultados não foram positivos nem negativos.
Os dados são da pesquisa “Plataformização da Educação”, realizada pela APP-Sindicato e o Instituto IPO em julho deste ano com educadores(as) de todo o estado. A percepção dos(as) professores(as) da rede encontra eco no relatório “Tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?”, publicado pela Unesco, que aponta prejuízos à aprendizagem advindos do uso excessivo de tecnologias na sala de aula.
Excesso, no Paraná, é o que não falta. Questionados(as), os(as) professores(as) identificam ao menos 20 aplicativos e programas utilizados nas escolas públicas. Alguns são de suporte ao trabalho pedagógico e gestão de sala de aula, mas parte significativa é de uso obrigatório. A adesão é monitorada de perto pelo governo, que cobra metas e estimula a competição entre escolas com políticas como o “Desafio Paraná”.
Sob o discurso da modernização e sem evidências de potenciais resultados, o estado assumiu a dianteira nacional do processo de digitalização do ensino e da aprendizagem na gestão do secretário Renato Feder. O empresário, envolvido em polêmicas na pasta de São Paulo pelo abandono dos livros impressos, impôs a adoção indiscriminada de tecnologias à rede, aliando uma miríade de aplicativos e recursos à vigilância do trabalho docente.
Alto custo, baixa aprendizagem
Acelerada pela pandemia e continuada pelo atual secretário da Educação, Roni Miranda, a transição digital abrupta trouxe como resultado índices alarmantes de sobrecarga e adoecimento da categoria. Como revelado na primeira reportagem sobre a pesquisa “Plataformização da Educação”, mais de 70% dos(as) educadores(as) atribuem impactos negativos na saúde física e/ou mental ao uso de plataformas atrelado a metas.
O preço cobrado não se limita à deterioração das condições de trabalho. Segundo levantamento preliminar realizado pela professora doutora Carolina Batista Israel, da UFPR, o governo do Paraná já gastou mais de R$ 53 milhões com plataformas educacionais controladas por empresas privadas. Os gastos, extraídos do portal da transparência, são virtualmente infinitos, pois se paga para ter acesso temporário. “As plataformas são vendidas como um serviço por tempo limitado, em um modelo chamado de software como serviço. Paga-se pela licença de uso, mas o governo não vira proprietário da plataforma”, explica.
O investimento e o desgaste dos(as) trabalhadores(as) não parecem ter revertido em resultados na aprendizagem dos(as) estudantes. Em respostas abertas à pesquisa do IPO, professores(as) consideram que os(as) alunos(as) não estão preparados(as) para lidar com as tecnologias, criticam a superficialidade dos conteúdos e apontam a falta de interesse dos(as) estudantes e a estrutura precária das escolas, entre outros fatores como o engessamento da autonomia docente.
Para 67% dos(as) entrevistados(as), os(as) estudantes têm dificuldades para lidar com as plataformas e quase oito em cada dez avaliam que a inserção de tecnologias no ambiente escolar afetou inteira ou parcialmente a sua autonomia pedagógica. Sobretudo, a exigência de uso limita as opções de apresentação dos conteúdos didáticos e transforma o(a) professor(a) em mero mediador da relação entre plataformas e alunos(as).
“Este é um dos principais problemas da plataformização”, avalia a secretária Educacional da APP, Vanda Santana. “Relegar ao(à) professor(a) um papel secundário no ensino e aprendizagem é um erro. Não se trata apenas de defender o protagonismo da categoria, mas de compreender a importância da interação humana para o aprendizado”, diz.
No mundo, o debate sobre os efeitos da digitalização da educação está em franca ebulição. Diversos países proibiram o uso de smartphones em sala de aula. A Suécia, que há 15 anos já usava tablets na escola, abandonou seu plano de digitalização e anunciou a volta dos livros.
A decisão se deu após a queda de desempenho em testes padronizados da capacidade de leitura dos(as) estudantes. “Estamos em risco de criar uma geração de analfabetos funcionais”, advertiu a ministra da Educação do país, Lotta Edholm.
Existem muitas evidências de que escrever com caneta e papel codifica a aprendizagem de forma mais profunda do que digitar. Estudos realizados em 2012 e 2020 demonstram que a escrita manual aciona redes neurais que não são ativadas com a digitação. A falta de interação humana e a distração estão entre os principais fatores de risco apontados no relatório da Unesco.
O Center for Disease Control and Prevention (CDC) – a Anvisa americana – aponta que o excesso de tempo de tela aumenta o risco de obesidade, problemas de sono, ansiedade, prejudica o desenvolvimento cognitivo e reduz o tempo de atividades físicas diárias.
“Os alunos têm atualmente menos capacidade de concentração. Dedicam menos esforço para escrever bem, porque programas de ortografia automática fazem a escrita parecer mais fácil do que é. O principal problema é que o computador também é uma distração”, afirmou em entrevista recente ao G1 Inger Enkvist, professora catedrática emérita na Universidade de Lund, na Suécia.
A citação da pesquisadora sueca deve soar familiar aos(às) educadores(as) do estado. O aplicativo Redação Paraná, utilizado para a produção textual, corrige a ortografia dos(as) estudantes. A ditadura das plataformas também se expressa em políticas como a atribuição de parte significativa da nota ao uso do Quizziz, software de perguntas e respostas de múltipla escolha. A vigilância inclui medidas como o afastamento de diretores(as) de escola que não atingem as metas arbitrariamente estipuladas pelo governo.
No mundo, o debate sobre os efeitos da digitalização da educação está em franca ebulição. Diversos países proibiram o uso de smartphones em sala de aula. A Suécia, que há 15 anos já usava tablets na escola, abandonou seu plano de digitalização e anunciou a volta dos livros.
A decisão se deu após a queda de desempenho em testes padronizados da capacidade de leitura dos(as) estudantes. “Estamos em risco de criar uma geração de analfabetos funcionais”, advertiu a ministra da Educação do país, Lotta Edholm.
Existem muitas evidências de que escrever com caneta e papel codifica a aprendizagem de forma mais profunda do que digitar. Estudos realizados em 2012 e 2020 demonstram que a escrita manual aciona redes neurais que não são ativadas com a digitação. A falta de interação humana e a distração estão entre os principais fatores de risco apontados no relatório da Unesco.
O Center for Disease Control and Prevention (CDC) – a Anvisa americana – aponta que o excesso de tempo de tela aumenta o risco de obesidade, problemas de sono, ansiedade, prejudica o desenvolvimento cognitivo e reduz o tempo de atividades físicas diárias.
“Os alunos têm atualmente menos capacidade de concentração. Dedicam menos esforço para escrever bem, porque programas de ortografia automática fazem a escrita parecer mais fácil do que é. O principal problema é que o computador também é uma distração”, afirmou em entrevista recente ao G1 Inger Enkvist, professora catedrática emérita na Universidade de Lund, na Suécia.
A citação da pesquisadora sueca deve soar familiar aos(às) educadores(as) do estado. O aplicativo Redação Paraná, utilizado para a produção textual, corrige a ortografia dos(as) estudantes. A ditadura das plataformas também se expressa em políticas como a atribuição de parte significativa da nota ao uso do Quizziz, software de perguntas e respostas de múltipla escolha. A vigilância inclui medidas como o afastamento de diretores(as) de escola que não atingem as metas arbitrariamente estipuladas pelo governo.
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