O Paraná registrou 44.493 novos casos de violência doméstica ao longo de 2022, segundo dados do Tribunal de Justiça (TJ-PR). O dado representa um aumento em relação aos anos anteriores.
Em 2022, os meses que apresentaram mais registros foram fevereiro, com 4.182 denúncias, março, com 4.459 e agosto, com 4.198. No mesmo ano, segundo dados do Ministério Público do Paraná (MP-PR), o estado registrou 274 casos de feminicídio ou de tentativa de feminicídio. Um aumento de 30% em comparação com o ano anterior.
Confira a quantidade de denúncias de violência doméstica desde 2019:
- 2019: 42.843 registros
- 2020: 43.038 registros
- 2021: 42.539 registros
'Espiral de violência'
Uma mulher, que prefere não ter a identidade revelada, relata que foi vítima de violência por parte do namorado. De acordo com ela, no início ele apenas demonstrava ciúmes, mas as atitudes começaram a piorar.
Segundo a vítima, houveram momentos em que ele a impediu de sair de casa. Mesmo após terminar o relacionamento, as agressões continuaram. A última aconteceu em agosto de 2022, quando ela decidiu procurar ajuda.
"Ele pegou e me bateu com um pano. Nesse pano tinha uma chavinha na ponta. Como eu não tinha ninguém, liguei para a minha mãe e ela falou que eu tinha que ter um pouco de calma, porque ela não sabia de tudo que vinha acontecendo. Hoje eu consigo ver: ali ele já tinha me proibido de todas as minhas amizades. Eu já não tinha amigos mais. Era só eu e ele que tinha que viver", relata.
A psicóloga Simone Eloise Vicenti explica que, na maioria das vezes, a violência tende a escalar ao longo do tempo.
"É como se fosse uma espiral. Naquela relação que existia uma troca de ofensas ou uma proibição de sair com alguns amigos, pode sim se tornar uma violência física, uma violência patrimonial, uma violência sexual... E se agravar, no sentido de acontecer com mais frequência e ir aumentando a gravidade", afirma.
Vicenti é também coordenadora do Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (CRAM) em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba.
Ela conta que, em média, 600 pessoas em situação de violência doméstica são atendidas todos os meses no CRAM do município.
Alguns desses casos são acompanhados de perto pelos técnicos que trabalham no local, porque cerca de 120 vítimas estão em uma relação de violência e abuso e não conseguem sair dessa situação.
"A gente tenta entender o que faz com que essa mulher permaneça em um relacionamento tóxico. Quando essa mulher tem uma dependência emocional, uma situação de vulnerabilidade socioeconômica, ou um processo em curso, que pode ser um agravante para ela retornar para a situação de violência, a gente mantem ela nesse atendimento até que tenha essa situação resolvida", explica a assistente social Wania Regina Wolff.
De acordo com a coordenadora do CRAM, é fundamental que, apesar das dificuldades, as pessoas em situação de violência busquem ajuda.
"É possível sim, não é um caminho fácil, mas é um caminho que não é solitário. Existe toda uma rede de apoio, de profissionais, que estão aqui capacitados para auxiliar essa mulher naquelas necessidades individuais dela", reforça a psicóloga Simone Eloise Vicenti.