O aumento da comida descolou do índice geral de inflação nos últimos meses. Enquanto o IPCA em um ano subiu 4,87%, o avanço dos preços de alimentos e bebidas supera os 7%.
Os problemas climáticos e a disparada do dólar foram os principais responsáveis pela alta dos preços dos alimentos.
Tem o índice oficial e tem a inflação de cada um. Depende do tamanho do prato. A advogada Claudia Bomfim dos Santos tem pouco apetite no horário comercial. Almoça leve e não esconde como fica satisfeita com isso.
"Às vezes, eu saio com algum colega do trabalho que come um pouquinho mais, aí a gente sabe que aquele valor do vale refeição acaba excedendo, né? Não é suficiente”, diz.
A consultora de viagens Flavia Cristina Schmidt é turista no restaurante.
"É um luxo que você pode se dar de vez em quando. Eu acabo optando por fazer a compra da marmita no trabalho, tenho uma pessoa que já está acostumada a fazer”, conta.
Enquanto isso, Jean Michel Brunetto, dono de restaurante, trabalha espremido na cozinha.
"A gente tem negociado quantidade com o fornecedor, tem trocado de fornecedores o tempo inteiro, buscando alternativa para reduzir o nosso custo para não passar tanto para o nosso cliente final”, conta.
Mas é a atendente do restaurante Bruna Souza de Andrade que não mede as palavras para falar do preço da comida.
"Café, óleo, arroz, teve um preço absurdo nos últimos tempos. De um mês para cá, você vai no mercado, uma compra que fazia no mês quando chega no outro está o dobro”, diz.
"Todo mundo consome alimento para sobreviver, só que a variação desse peso em uma cesta onde só 5%, 10% da minha renda eu gasto com alimento, ela tem um impacto menor para mim do que uma pessoa que gasta 30%, 40% em alimentação, ela vai ter um impacto maior. Quando você tem uma cesta de bens mais de classes menores, com menos capacidade financeira, os alimentos acabam pesando”, afirma.
A refeição pesou no Brasil. Efeito de uma série de eventos climáticos. Logo no começo do ano veio a chuva no Sul, depois a seca e as queimadas no segundo semestre. E com a disparada do dólar como acompanhamento. Como o Brasil é um grande exportador, o preço dos produtos é cotado em dólar.
"O insumo sem dúvida é igual. O preço de uma proteína animal, ou de um saco de soja ou de trigo ele é igual em qualquer lugar do mundo, porque ele é um preço dolarizado”, diz professor de economia do Insper.
Em bom português: "O café e a conta, por favor”.
"É um absurdo, né? O produto é nosso. É bem difícil, mas a gente acaba mesmo que não tendo para onde correr”, afirma o agente de viagens Kayque Mathias.