A produção brasileira de peixes de cultivo chegou a 860.355 toneladas, em 2022, conforme o levantamento exclusivo realizado pela Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR). Esse número representa aumento de 2,3% sobre as 841.005 toneladas produzidas em 2021.
Desde que a Peixe BR oficializou essas estatísticas, em 2014, a evolução da produção de peixes de cultivo já chegou a 48,6%. É um acréscimo de 281.555 toneladas em nove anos. E essa multiplicação não tem milagres.
Todo esse avanço é resultado do aprimoramento constante de toda a cadeia produtiva e da intensa dedicação da Peixe BR para estimular, por todo o país, não só o cultivo sustentável – do ponto de vista econômico, ambiental e social – dessa proteína, como o consumo.
O ano foi bastante atípico, com um primeiro semestre de preços baixos pagos ao produtor. Essa condição levou à redução do alojamento e, por consequência, também da oferta de peixes na segunda metade de 2022. A partir daí, ocorreu aumento de preços pagos ao produtor. Entre agosto e dezembro houve a maior série histórica dessa elevação, com aumentos semanais, de acordo com levantamento do Cepea.
A elevação do custo de produção impactou todas as demais cadeias de proteína de origem animal e não foi diferente com a piscicultura. “Esse foi um dos principais desafios do setor, pois acabou influenciando os preços da ração, que representa o maior custo da piscicultura”, afirma o presidente-executivo da Peixe BR, Francisco Medeiros.]
O dirigente acrescenta que o cenário ainda foi intensificado pela perda do poder aquisitivo de parte da população. “A solução foi melhorar a gestão dos negócios em toda a cadeia produtiva, oferecendo novos itens ao consumidor final e ampliando os canais de venda”, disse Medeiros.
Com a melhoria dos preços pagos ao produtor no segundo semestre, houve uma corrida por alevinos e juvenis de tilápia. O mercado não conseguiu atender a essa demanda durante todo o segundo semestre, já projetando uma grande produção para 2023. Segundo o presidente da Peixe BR, o Brasil tem neste momento as melhores condições do mundo para continuar e aumentar sua produção.
No cenário do mercado de peixes nativos, após um longo período de queda de produção houve estabilização com pequeno crescimento. Esse resultado é bastante significativo, mesmo diante de todos os desafios que o setor enfrenta, desde sanidade, legalização da produção, industrialização e ampliação de novos mercados.
Apesar desse aumento, o produtor continua com menor remuneração, o que levou a uma baixa procura por alevinos para reposição do alojamento no último trimestre de 2022. A quaresma de 2023 é o período que vai definir o futuro do negócio de peixes nativos. Se houver recomposição de preços pagos ao produtor poderá ocorrer retomada da produção no Brasil. Porém, sem a solução para os principais gargalos do setor o risco continua.
Medeiros destaca que a piscicultura brasileira, gerida de maneira profissional como tem sido feito, tem muito potencial de crescimento. “Está apenas começando no Brasil. E temos aí três décadas seguidas de crescimento”, afirmou. Grande expectativa vem também do espaço que o peixe produzido por aqui pode ocupar no mercado internacional. Em 2023, o Brasil exportou 8,5 mil toneladas, com receita de US$ 23,8 milhões. Houve elevação do faturamento em 15%, porém recuo do volume (-13%).
A presença internacional ainda é pequena, mas pode crescer com mais velocidade. Segundo Medeiros, a abertura de mercado para produtos congelados, como a tilápia em filé ou inteira, já tem feito a diferença. “Já estão entre nossos principais itens de exportação.”
A tilápia, aliás, continua a ser o destaque dos peixes de cultivo e teve aumento de 3% na produção nacional quando se compara as 550.060 toneladas de 2022 às 534.005 toneladas de 2021. Os peixes nativos também avançaram (1,8%) nessa mesma comparação, passando de 262.370 toneladas para 267.060 toneladas. As outras espécies (carpas, trutas e pangasius) somaram 43.235 toneladas, com queda de 3% sobre as 44.585 produzidas no ano anterior.
Os índices de expansão da piscicultura como um todo podem ser ainda mais relevantes nos próximos anos conforme aumentar também a segurança jurídica para produção de pescado de cultivo, com ampliação da liberação de uso das águas da União e com mais programas governamentais que estimulem o setor.
A Peixe BR mantém um trabalho intenso para que isso aconteça. A entidade já se aproximou do novo ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, para mostrar a realidade da piscicultura brasileira e onde ela pode chegar. E o quanto o trabalho conjunto pode nutrir esse avanço.