O ex-governador Roberto Requião (PT) volta à cena política paranaense concorrendo pela sexta vez ao Palácio Iguaçu, prometendo, se eleito, resgatar as políticas de suas três gestões anteriores.
Crítico da administração Ratinho Júnior (PSD), a quem acusa de ter colocado a Copel e a Sanepar a serviço de investidores estrangeiros à custa de altas tarifas de energia elétrica e água, afirma não pretender fazer nada de novo ou diferente do que já fez quando esteve no comando do Estado.
Requião aposta ainda na eleição do agora correligionário de partido, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que o País retome o que ele chama de políticas nacionalistas e antiimperialistas em contraposição à submissão ao mercado financeiro que ele vê no governo Bolsonaro.
Em entrevista ao Bem Paraná, o ex-governador explica porque escolheu entrar em mais uma disputa eleitoral pelo PT, depois de deixar o MDB após 40 anos de militância no antigo partido, e qual sua expectativa para um eventual quarto mandato no cargo mais importante do Estado.
Bem Paraná - Depois que deixou o MDB, o senhor conversou com diversos partidos. Por que escolheu o PT?
Roberto Requião – Porque o PT vinha junto comigo há muito tempo. Eu não conversei com diversos partidos. Diversos partidos me fizeram um convite. Eu fui para essa frente, federação. Que na verdade que mais do que uma candidatura minha é um movimento para a recuperação do Estado. É a mesma posição que o Lula tem, uma frente política, sete, oito partidos. Uma proposta aberta, o Alckmin como vice. É uma tentativa de retomar a normalidade política do Brasil. No meu caso, do Paraná.
BP - Muitos acreditavam que o senhor fosse para outro partido, para evitar uma suposta rejeição do eleitorado paranaense ao PT. O senhor acha que essa rejeição existe efetivamente?
Requião – Qualquer pesquisa que você pegue hoje, o Lula está na frente do Bolsonaro. Eu já fui governador três vezes. O que pode haver de expectativa em torno de mim? Farei um governo como fiz os outros. Com mais experiência, mais competência, mais informação. Um momento mais difícil. Eu já fui governo em uma crise como essa. A crise de 2007,2009. E o que eu fiz nessa crise. Fiz um governo para o povo do Paraná. Baixei o imposto das microempresas para zero.
As pequenas empresas para 2,5% em média. Aumentei o salário mínimo regional trocando imposto por empregos para o pessoal manter a atividade. Baixei o imposto de 105 mil itens, bens de consumo salário. E durante aquela crise tivemos um sucesso absoluto na geração de empregos e tudo mais. Congelei a tarifa de água e luz por oito anos, dois governos sucessivos. E hoje há um equívoco total desses ‘meninos’ que tomaram conta do governo do Estado de dizer que a Sanepar é uma empresa do mercado. Copel é uma empresa do mercado. Não é. São empresas públicas.
Nós estamos com preços rigorosamente absurdos. O lucro da Copel foi R$ 5,1 bilhões. Distribuído para os acionistas. Venderam a Copel Telecom que me possibilitou colocar internet banda larga em 2,2 mil escolas públicas. Há uma distorção total do que seja um governo. Um desconhecimento da economia da administração pública. E ao mesmo tempo, há uma desoneração de R$ 17 bilhões para as multinacionais, secretamente. Ninguém sabe para quem. Ao mesmo tempo, dizem que não tem dinheiro para corrigir o salário do quadro geral dos servidores do Estado. O quadro geral é miserável.
POLITICA ECONÔMICA
‘Acredito em um governo Lula nacionalista’
Bem Paraná - O senhor teve uma postura crítica em relação à política econômica dos governos anteriores do PT. Qual a sua expectativa para a política econômica de um novo governo Lula?
Requião – Eu acho que o Lula aprendeu muito. Eu apoiei tudo que achava positivo: a inclusão social, o aumento de salário, a inclusão do trabalhador no mercado de consumo e trabalho. E fiz a crítica à politica do Meirelles, do Joaquim Levy, do Nelson Barbosa. Eu tenho a convicção de que o Lula será um presidente anti-imperialista e nacionalista daqui para a frente. Aliás foi o que ele disse (no lançamento da candidatura): ‘me inspiro no Requião’. Isso é fundamental. Reconquistar o Estado.
BP - A participação do Alckmin, ex-PSDB, conhecido por defender políticas econômicas mais ortodoxas, na chapa do Lula, pode influenciar a política econômica de um novo governo do PT?
Requião - A presença do Alckmin abre a perspectiva eleitoral. Provoca uma união nacional. E o Alckmin, pelo discurso que fez, está em uma posição muito boa. De apoio absoluto à recuperação do Brasil, trabalhando para a população. E o que importa não é a presença do Alckmin. É o programa de governo que sairá da convenção de lançamento das candidaturas. Que não pode ser temerário, não pode ser ousado, portanto, impraticável e não pode ser covarde, uma covardia que signifique apoio ao mercado financeiro. O Brasil tem que ter um governo voltado para as necessidades do povo brasileiro e não do mercado. Embora o mercado seja importante. Por exemplo, eu sou um admirador do agronegócio brasileiro. O nosso agronegócio, em produtividade é superior ao norte-americano. Nós somos o país que mais produz comida no mundo. Estamos importando arroz e feijão da China.
BP- Muita gente se surpreendeu quando o senhor disse que o Ministério Público prendeu o ex-governador Beto Richa de forma arbitrária e ilegal. Porque o senhor decidiu se posicionar dessa forma?
Requião - Porque eles fizeram isso mesmo. O que fizeram com a mulher do Beto Richa, se fizessem comigo eu teria resolvido à bala. O que fizeram com a Fernanda (Richa) foi de uma indignidade, uma imoralidade absoluta. Até hoje não tem inquérito de espécie alguma contra a Dona Fernanda. Eu não faço a defesa do Beto Richa. Eu faço a defesa do Judiciário brasileiro que foi afrontado por essa gente.
RODOVIAS
‘Pedágio tem que ser de manutenção’
Bem Paraná - O senhor já foi deputado, prefeito de Curitiba, senador, governador por 3 vezes. O que o motiva a continuar não só na política, mas a entrar em uma nova disputa eleitoral?
Requião – Eu tive um aprendizado na política. Eu fui prefeito, a minha avaliação era a melhor do Brasil. O que me levou a ser governador por três vezes. Me elegi para o Senado e sacudi o Senado. Agora, hoje nós não temos senador. Já ouviu falar nos senadores do Paraná? Fazem alguma coisa? O que me leva é a indignação com o desgoverno. E a certeza de que eu sei governar. E eu tenho certeza que a gente pode rapidamente consertar o que acontece no Estado. O pedágio, por exemplo. O pedágio ia vencer em 25 anos. O pedágio venceu e eles não sabiam o que fazer? Não. Não foi isso. Eles não fizeram o pedágio porque eles vão fazer uma grande malandragem. A ANTT já disse que os preços serão muito maiores. Eles querem evitar o processo eleitoral. Foi o que aconteceu comigo lá atrás quando disputei com o Lerner (em 1998). Ele baixou em 50% o pedágio. Tomou posse, subiu tudo de novo e criou o degrau (tarifário).
BP - O governo federal pretende fazer uma licitação dos novos pedágios no final do ano, antes da posse do futuro governo. Caso isso realmente aconteça, o que o senhor pretende fazer em relação a isso?
Requião – Acho que nós temos que ganhar a eleição aqui e a nacional e imediatamente, retirar a autorização do governo federal de usar estradas paranaenses. E fazer, conforme a situação financeira do Estado, um pedágio de manutenção. Para colocar um reboque, uma ambulância, cortar mato da beira da estrada. Porque há um equívoco fundamental de você fazer um pedágio, em que um cara cobra uma tarifa para contratar um terceiro para fazer a obra. Não tem cabimento. Porque esse intermediário. Não tem sentido algum isso.
BP - O senhor pretende fazer um novo governo, retomando as políticas de suas gestões anteriores, ou pretende fazer algo novo, diferente do que já fez?
Requião – Porque fazer algo novo diferente? A gente tem que fazer o melhor para o Estado. Uma coisa que tem que beneficiar a população. Eu vou reconduzir o governo a trabalhar para as pessoas. A Copel e a Sanepar atenderem os paranaenses e não o mercado. Se eu ganhar essa eleição eu demito toda a diretoria da Copel e da Sanepar no dia seguinte (à posse). Eu não vou dizer como o Bolsonaro que não pode mexer no preço porque a Petrobras que decide.
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