A segunda-feira (14) foi de forte instabilidade no mercado da Argentina, com desvalorização do peso frente a moedas como o dólar e o real e medidas restritivas adotadas pelo Banco Central do país, como o aumento da taxa de juros. O motivo foi o resultado das eleições primárias para a presidência, realizadas no domingo (13).
O pleito deixou como saldo a primeira colocação para o candidato Javier Milei, do pequeno partido La Libertad Avanza, ligado à extrema-direita. Conhecido por posições radicais, como a proposta de dolarizar a economia argentina e acabar com o Banco Central, Milei obteve 30,04% dos votos válidos.
Em segundo lugar ficou a coligação opositora Juntos pela Mudança (JxC), que definiu a ex-ministra Patricia Bullrich como candidata à presidência e conquistou 28,27% da preferência do eleitorado. A terceira posição foi da aliança governista União pela Pátria, com 27,27%. O candidato do bloco será o ministro da Economia, Sergio Massa.
O temor de que Milei possa vencer a disputa presidencial, cujo primeiro turno está marcado para 22 de outubro (o segundo turno, se necessário, será em 19 de novembro), desvalorizou os títulos da dívida argentina no exterior e derrubou a cotação do peso, obrigando à intervenção no mercado.
No mercado paralelo, o dólar chegou a ser cotado a P$ 685, alta de 13%. No câmbio oficial, por sua vez, o valor bateu em P$ 350. A taxa de juros do país, uma das mais altas do mundo, foi incrementada em 21 pontos, subindo de 97% para 118% ao ano.
Puerto Iguazú
Na região de fronteira, em Puerto Iguazú, o real brasileiro chegou a valer P$ 137, gerando incerteza nos comerciantes e cambistas locais em relação a qual cotação praticar. De acordo com o jornal El Territorio, pelo menos duas casas de câmbio da cidade argentina decidiram suspender parte das operações, para evitar prejuízos.
O El Territorio relata, também, que comerciantes da região da Feirinha, bastante frequentada por turistas brasileiros e moradores da fronteira, optaram por fechar as portas ou retirar algumas das mercadorias das prateleiras, temendo dificuldades para a reposição dos estoques.
“O aumento do dólar fez com que muitos fornecedores avisassem que não possuem listas de preços atualizadas. Devido à incerteza, os comerciantes que não fecharam tiraram das gôndolas os produtos mais caros, já que não seria possível garantir a reposição do artigo”, descreve o jornal argentino.
Dolarização da economia
Em entrevista à Radio Yguazú Misiones, o vereador Javier Bareiro, de Puerto Iguazú, expressou temor quanto à proposta de dolarização da economia, apresentada por Milei. Na década de 1990, durante o governo do peronista Carlos Menem, a Argentina adotou paridade de “um por um”, o que tornou o país caro e sufocou a cidade fronteiriça.
“Em Puerto Iguazú, nós experimentamos as problemáticas e consequências que nos trouxe o famoso ‘um por um’. Todos nos lembramos do Porto Meira, um bairro de Foz do Iguaçu que nasceu e cresceu com os argentinos. Nós íamos fazer as compras da semana em Foz, comprávamos eletrodomésticos, tudo era comprado em Foz”, recordou Bareiro.
Ligado ao grupo político Frente Renovadora (que apoia, nacionalmente, o governista Sergio Massa), o vereador relembrou que o comércio local esteve à beira da falência, bem como o setor turístico, uma vez que hotéis e passeios eram mais baratos no Brasil. “Esse é o temor que nos gera a política oferecida pelo candidato mais votado”, reforçou.
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