Ainda sem registrar casos de contaminação em planteis comerciais, a gripe aviária e seus impactos continuam a preocupar o setor produtivo e as autoridades ligadas à biossegurança no Brasil e, principalmente, no Paraná. O país é o maior exportador de proteína animal do mundo e apesar de muitos países conviveram com a doença em seus planteis, esse reflexo teria uma intensidade muito maior no Brasil por conto das cláusulas de acordos comerciais firmados com outras nações.
O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários encomendou junto a Fundação Getúlio Vargas-Agro, estudo sobre qual seria o impacto financeiro se a doença transpusesse as barreiras de segurança nos aviários e contaminasse plantéis oficiais. E os números são significativos: no mínimo R$ 21,7 bilhões em toda a economia. Como não poderia ser diferente, o setor mais afetado seria o agronegócio, com um prejuízo estimado em R$ 11,8 bilhões e perdas de 26 mil postos de trabalho. Especialista da área ouvido pelo O Paraná, que preferiu não se identificar, como o Paraná representa 40% da produção nacional, a disseminação da gripe aviária no estado custaria à agricultura e pecuária paranaense R$ 7,4 bilhões por ano.
A presença de maneira mais maciça da gripe aviária envolveria vários setores, tais como o de produção, exportação, renda e salários. A arrecadação de impostos também sentiria esses efeitos, com redução de R$ 1,3 bilhão, o mesmo ocorrendo com a renda da população brasileira, ao cair R$ 3,8 bilhões.
Empresas do setor produtivo defendem medidas mais eficazes e rigorosas para conter a propagação dos casos. Os efeitos indiretos afetariam o comércio varejista e atacadista. De acordo com o estudo, para cada perda de R$ 100 no valor das exportações de aves, o comércio deixaria de faturar R$ 11, ou seja, um impacto desfavorável de 11%. O estudo aponta ainda a redução de 8% na produção de rações animais, 6% no setor elétrico e 4% no transporte terrestre de cargas.
1,4 mil investigados
Do total de 1,4 mil casos investigados, em 319 houve a necessidade de coleta de amostras para testes laboratoriais, conforme o painel sobre gripe aviária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Sobre os casos analisados, 62 deram positivo para o vírus da influenza aviária de alta patogenicidade e seis ainda se encontram no aguardo de resultados.
Para a Anffa Sindical, a atuação da defesa agropecuária é fundamental para neutralizar os prejuízos apontados pelo estudo. Esforços conjuntos são realizados pelo Ministério da Agricultura e pelos auditores agropecuárias estaduais para prevenir esses efeitos, com destaque para o potencial de o Brasil reagir diante de um eventual surto.
Atualmente, o mundo vivencia a maior epidemia já registrada de IAAP e a maioria dos casos está relacionada ao contato de aves silvestres migratórias com aves domésticas de subsistência, de produção ou aves silvestres locais.
Na América do Sul, desde outubro de 2022, já foram notificados focos da doença na Colômbia, Equador, Venezuela, Peru, Chile, Bolívia, Uruguai e Argentina, em alguns casos limitando-se a aves silvestres e outros atingindo aves domésticas de subsistência ou de produção.
Nesta semana, no Paraná, novos casos de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade foram confirmados em Guaraqueçaba, litoral paranaense. As contaminações são em aves siltrestres, da espécie Trinta-réis-de-bando (Thalesseus maximus).
Até agora, o Paraná registrou sete focos da doença, todos em aves silvestres no litoral do Estado. A Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) mantém as medidas de vigilância e de biossegurança em propriedades em torno dos focos.
Os outros focos foram localizados em Pontal do Paraná, Antonina e Paranaguá. Todas as amostras são enviadas para o LFDA/SP, Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de São Paulo, reconhecido pela OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal) como referência internacional em diagnóstico de Influenza Aviária.
Capacitação e treinamento
A Adapar atende 100% das notificações de suspeita. Quando verificado um caso provável, é feita a coleta de amostra para diagnóstico laboratorial, isolamento de animais, interdição da unidade epidemiológica (propriedade), verificação do trânsito e investigação de possíveis vínculos.
A Agência também promoveu, recentemente, a capacitação e o treinamento de profissionais em todas as Unidades Regionais do Estado, e conta com médicos veterinários com dedicação exclusiva e capacidade técnica elevada na área para atendimento das questões sanitárias. No final de junho, por meio de uma portaria, a Adapar suspendeu por 90 dias o trânsito de aves do Litoral para mitigar a disseminação da doença.
A primeira linha de defesa contra a influenza aviária é a detecção precoce e a notificação oportuna de suspeita da doença para permitir uma resposta rápida, a fim de evitar a disseminação. Os produtores e a população precisam ficar atentos aos sinais que as aves infectadas pelo vírus da gripe aviária apresentam.
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