O aumento nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em diversas unidades da federação brasileira acendeu um sinal de alerta em meio aos tempos de relativa tranquilidade sanitária no Paraná. Nas clínicas particulares, por exemplo, houve aumento nas últimas semanas na procura por testes para Covid-19 e influenza, ao mesmo tempo em que a demanda por vacinas contra a gripe subiu. Já no âmbito da saúde pública, ontem a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) emitiu um alerta para a importância da retomada da vacinação contra a doença pandêmica.
No caso da vacinação contra a Covid, o alerta da Sesa vem após uma redução de 95% no número de vacinas aplicadas contra a enfermidade num intervalo de um ano. Em outubro de 2021, ainda na esteira da grande procura pelo imunizante, foram registradas 2.479.269 doses. Já em outubro deste ano, apenas 121.779. Os números são da Rede Nacional de Dados de Saúde (RNDS), disponíveis no Vacinômetro Nacional.
Desde o início da imunização contra o novo coronavírus, um total de 27.876.265 doses de vacinas foram aplicadas no Paraná, sendo 10.179.981 primeiras doses (D1), 9.378.983 segundas doses (D2), 338.346 doses únicas (DU), 6.115.097 primeiras doses de reforço (REF), 1.414.520 segundas doses de reforço (R2) e 449.338 doses adicionais (DA).
A cobertura vacinal do público acima de cinco anos para D1 e DU é de 97,86% e para D2 de 92,38%. Já para a REF, a porcentagem cai para quase 63% e para a R2 a cobertura é ainda menor, cerca de 23%. A R2 ou quarta dose é recomendada pelo Ministério da Saúde para pessoas a partir de 40 anos, mas as prefeituras que têm doses estão estimulando a vacinação de público mais jovem. Além disso, há 717.713 paranaenses que ainda não foram vacinados, ou seja, não tomaram nenhuma dose do imunizante.
Validade
Hora de tomar (ou reforçar) a vacina contra a gripe
Além da doença pandêmica, a chegada da primavera também faz aumentar a preocupação com os casos de gripe/influenza. Nas últimas semanas, por exemplo, a Clínica Vacinne registrou um aumento de 20% na procura por exames diagnósticos.
“Há uns três meses a procura [por diagnóstico] era mínima, mais pessoal que ia viajar e precisa do laudo pra Covid. Agora é muito paciente sintomático procurando, principalmente exames de influenza”, afirma Kátia Oliveira, enfermeira especialista em vacinação da Clínica Vacinne, citando que na esteira do aumento de casos está havendo também uma maior demanda por vacinas.
“A gente está fazendo uma campanha especial para o final do ano, que é esperado aumento dos casos de gripe por causa da mudança de estação, e lançamos uma campanha de verão para incentivar a imunização. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) preconiza que quem tomou a vacina no SUS, a trivalente, seis meses depois pode tomar a tetravalente”, comenta a enfermeira, explicando ainda que quem tomar a vacina tetravalente reforça a imunização e garante proteção contra mais uma cepa, a Darwin da H3n2, responsável pelo surto de gripe no começo do ano no país.
Paraná tem a maior cobertura vacinal do país
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no final do mês passado na 30ª edição do Brasil em Números (publicação anual com informações e análises de múltiplos aspectos da realidade brasileira), revelam que o Paraná foi, no ano de 2021, a unidade da federação que alcançou a maior cobertura vacinal do país, considerando as vacinas BCG (contra tuberculose), contra a hepatite B, poliomielite, a tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) e tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela).
Enquanto no país a cobertura vacinal média foi de 55,1%, no Paraná essa média foi de 65,4%, com destaques para a cobertura de 81,5% da tríplice viral e de 77,23% para a hepatite B, enquanto a tetra viral apresentou a menor cobertura (16,1%).
Mesmo com o destaque nacional, no entanto, a situação paranaense não pode ser considerada boa. Isso porque o índice de cobertura ideal de uma vacina é acima de 90% e já há alguns anos os indicadores tem ficado abaixo dessa referência (não só no estado, mas no país como um todo).
“Diante de um contexto de disseminação de fake news e de questionamentos que colocam em dúvida a confiança da população no PNI como um todo, a atenção à educação em saúde e estratégias para incentivar o interesse pela ciência são fundamentais. É urgente o combate a informações equivocadas e o empoderamento da população através do compartilhamento de conhecimento científico, de forma acessível e objetiva”, escreve o IBGE.
A importância de estar com a vacina (ou o reforço) em dia
Afinal, por que é importante alguém estar com a vacinação em dia ou mesmo reforçar uma vacina que já tomou? Segundo o secretário de Saúde do Paraná, Beto Preto, as vacinas são a maior ferramente contra doenças infecciosas porque reduzem as chances de contaminação, agravamento da doença e diminuem o risco de morte.
“Por isso essa redução expressiva no número de doses aplicadas [da vacina contra o coronavírus] é extremamente preocupante”, afirmou o gestor, destacando que, no caso da Covid, a cobertura de primeira e segunda dose no estado é ótima, mas que é necessário atenção aos faltosos nas doses de reforços. “Não podemos deixar que a falsa sensação de proteção com as primeiras doses nos impeça de reforçarmos essa imunização e aumentarmos a prevenção contra a doença”, disse.
Já no caso da vacina contra a gripe, Kátia Oliveira, da Clínica Vacinne, destaca dois pontos importantes. “Quem não tomou a vacina deve tomar para reduzir o risco de se contaminar pela influenza e transmitir o vírus para os grupos mais vulneráveis. Outro ponto é quem quem tomou a trivalente não está protegido contra a cepa Darwin, que é a de maior circulação no ano”, destaca a enfermeira.