Os brasileiros usaram 24 milhões de toneladas de lenha como fonte de energia nas residências em 2021. É o maior patamar desde 2009, segundo dados da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) compilados pelo Poder360. No ano passado, a fonte representou 26% da matriz energética residencial. Só ficou atrás da eletricidade (45,4%). O GLP (gás liquefeito de petróleo) ou “gás de cozinha” representou 23% do total.
A trajetória de crescimento da lenha acompanha a redução do uso do GLP. “Em condições econômicas ideais, o espaço ocupado pela lenha deveria ser ocupado pelo gás. O que houve a partir de 2016 foi, exatamente, a substituição do gás pela lenha”, afirma o coordenador técnico do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), William Nozaki.
Os dados da EPE mostram que o uso da lenha estava em declínio entre 2007 e 2013. Nos anos seguintes, a fonte voltou a crescer em números absolutos. Teve seu maior aumento em 2018, de 12% na comparação com o ano anterior.
Nozaki destaca o ano de 2016 porque foi quando a Petrobras equiparou os preços praticados no mercado interno aos do exterior, por meio de sua política de preço de paridade internacional (PPI). Com reajustes menos frequentes que o diesel e gasolina, o PPI também elevou o preço do botijão.
Foi nesse período que a lenha voltou a ser mais usada que o gás de cozinha na matriz residencial. “Isso foi provocado pela perda do poder de compra do salário e pelo aumento no preço do gás em função da PPI adotada pela Petrobras”, diz Nozaki.
O GLP foi a 2ª fonte energética mais usada nas residências entre 2012 e 2016, sendo substituído pela lenha no ano seguinte.
Desde o início da série histórica de preços da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) até abril de 2022, o gás de cozinha aumentou 556%. O percentual é mais que o dobro da inflação no período: 268%.
De 2016 para cá, o preço médio do botijão saiu de R$ 74 para R$ 110,6 até maio deste ano – valores corrigidos pela inflação no período. Em maio, representava 9,3% do salário mínimo.
Assim como no caso do diesel e da gasolina, o governo Jair Bolsonaro (PL) tem a 2ª maior alta acumulada do GLP desde a abertura do mercado de refino no Brasil. Em 2021, os preços aumentaram 33,2%. O percentual está pouco abaixo da alta acumulada em 2002, quando a liberdade de preços foi adotada.
Em 2º lugar na disputa eleitoral, Bolsonaro propôs que os Estados zerem o ICMS sobre os combustíveis, incluindo o GLP, até o final do ano. Se aceitarem, serão compensados com repasse total de R$ 29,6 bilhões.
Para Nozaki, a medida pode causar uma redução entre R$ 0,50 e R$ 0,80 no botijão de 13 Kg. “O problema é que essa redução de centavos pode ser rapidamente perdida com novos reajustes feitos pela Petrobras e uma parcela vai ser absorvida pelas margens das refinarias e distribuidoras”, diz.
De acordo com dados da Petrobras, o imposto estadual representa 13% do preço final do botijão. O restante é composto pela parcela da estatal (49%) e as margens de distribuição e revenda (38%). Os impostos federais sobre o GLP foram zerados em 2021.
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